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No dia 21 de abril de 1960, nascia oficialmente Brasília, a nova capital do Brasil. Uma cidade projetada do zero em pleno Cerrado, com a ambiciosa missão de integrar o território nacional, descentralizar o poder e impulsionar o desenvolvimento econômico do interior.

Sob o traço de Lúcio Costa e a assinatura arquitetônica de Oscar Niemeyer, Brasília se tornou um ícone de modernidade, planejamento urbano e, com o passar do tempo, também palco de grandes desafios sociais e econômicos.

Hoje, ao completar 64 anos, a capital federal exibe não apenas sua arquitetura imponente, mas também profundas desigualdades socioeconômicas, contrastes de renda gritantes e uma estrutura financeira fortemente dependente do setor público.

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Brasília e sua vocação econômica: o peso do setor público e de serviços

Com uma economia predominantemente voltada para os serviços, o Distrito Federal (DF) tem no setor público sua principal base de sustentação. Estima-se que mais de 50% dos empregos formais estejam ligados direta ou indiretamente à administração pública federal, distrital ou órgãos vinculados. O setor de serviços, como um todo, representa cerca de 95% do Produto Interno Bruto (PIB) da região — um dos mais altos do país proporcionalmente, conforme dados do Instituto Brasília Ambiental (IBRAM) e da Codeplan.

Brasília também abriga importantes instituições financeiras, como o Banco Central do Brasil, responsável pela condução da política monetária nacional, controle da inflação, supervisão de bancos e — um dado pouco conhecido — definição da quantidade de moeda em circulação no país. A produção de moedas e cédulas, por sua vez, é realizada pela Casa da Moeda, no Rio de Janeiro, seguindo diretrizes estabelecidas pelo Banco Central, que leva em consideração a atividade econômica, taxa de substituição de notas desgastadas e estratégias contra falsificação.

Planejamento urbano: uma utopia desafiada pelo crescimento desordenado

Brasília nasceu de um plano urbanístico único no mundo, com setores bem definidos, largas avenidas, áreas verdes e um design em forma de avião — símbolo de progresso e movimento. A ideia era criar uma cidade funcional, que promovesse qualidade de vida e organização social.

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Contudo, nas últimas décadas, o crescimento populacional acelerado e a expansão descontrolada resultaram em graves distorções urbanas. Regiões periféricas, originalmente não planejadas, surgiram para abrigar trabalhadores que não conseguiam residir no Plano Piloto, como é o caso da favela Sol Nascente, atualmente a maior comunidade de baixa renda do Brasil, segundo o IBGE.

O Sol Nascente/Pôr do Sol, localizado em Ceilândia, abriga mais de 100 mil moradores, muitos em situação de vulnerabilidade social. O crescimento acelerado superou a capacidade de resposta do poder público, gerando deficiências em saneamento, mobilidade, saúde e segurança.

Desigualdade de renda: extremos em um mesmo território

O Distrito Federal é, simultaneamente, uma das unidades federativas com maior renda média per capita do país e uma das que apresentam maiores índices de desigualdade social. Essa contradição é refletida nos dados regionais:

  • Lago Sul: Renda per capita superior a R$ 10.979 mensais — uma das mais altas do Brasil;
  • Águas Claras e Sudoeste: Também concentram renda elevada, com infraestrutura de alto padrão;
  • Sol Nascente e Estrutural: Renda per capita próxima a R$ 695, com indicadores sociais semelhantes a regiões mais pobres do Norte e Nordeste.

Segundo estudo da Codeplan de 2023, a diferença entre as regiões administrativas evidencia uma segregação econômica e urbana. Enquanto algumas áreas concentram luxo, segurança e educação de qualidade, outras enfrentam esgoto a céu aberto e falta de postos de saúde.

Essa disparidade é um dos maiores desafios para o futuro da capital: como desenvolver políticas públicas que corrijam distorções históricas e promovam inclusão social de forma efetiva?

Produção de dinheiro e o papel do Banco Central na capital

Brasília tem um papel estratégico na infraestrutura financeira nacional. Sediando o Banco Central, a capital é o coração das decisões que envolvem o real, nossa moeda. O Bacen define a política de metas de inflação, os juros básicos (Selic) e planeja a distribuição física de moeda, conforme a demanda da economia.

A moeda brasileira é produzida fisicamente no Rio de Janeiro, pela Casa da Moeda do Brasil, mas todo o processo logístico de distribuição começa e termina em Brasília. De lá, a moeda é enviada para os bancos comerciais, que a colocam em circulação para consumidores e empresas. A segurança, rastreamento e reposição de notas e moedas fazem parte da complexa engenharia monetária que passa pelo DF.

Além disso, o Banco Central de Brasília lidera projetos de inovação como o Drex (real digital), open finance, pagamentos instantâneos (como o PIX), e o combate à lavagem de dinheiro — tornando a cidade uma referência em inteligência financeira na América Latina.

Brasília moderna: educação, startups e futuro tecnológico

A capital federal também vem se destacando como polo de educação de excelência e inovação tecnológica. A presença de universidades públicas como a UnB (Universidade de Brasília), somada a centros de pesquisa e programas de incentivo à inovação, tem fomentado um ecossistema de startups promissor.

O Parque Tecnológico de Brasília (Biotic) é um exemplo disso: busca atrair empresas de base tecnológica e científica, com foco em soluções sustentáveis e digitais. A meta é que, até 2030, Brasília se firme como referência em cidades inteligentes, com infraestrutura digital, transporte público eficiente e serviços públicos integrados.

Brasília 64 anos: entre símbolos, desafios e esperanças

Ao completar 64 anos, Brasília é mais do que o centro político do Brasil. É o retrato de um país em construção, com avanços significativos e entraves históricos. É onde decisões que impactam milhões de brasileiros são tomadas, mas onde ainda falta acesso digno para milhares de moradores.

A transferência da capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central trouxe benefícios estruturais, como a descentralização administrativa e o fortalecimento do interior. No entanto, também criou novos polos de desigualdade e uma metrópole altamente dependente do funcionalismo público.

A Brasília do futuro depende de planejamento urbano sustentável, inclusão social, equilíbrio fiscal e inovação tecnológica. Com os olhos voltados para o desenvolvimento econômico e a justiça social, a cidade pode cumprir sua missão original: ser um símbolo de integração e esperança para todos os brasileiros.